segunda-feira, 23 de julho de 2012

A minha profissão!

Hoje partilho convosco um artigo que escrevi sobre a minha profissão, para a Revista Diversidades, no final de 2011. 
Uma revista da Região Autónoma da Madeira - (Secretaria Regional de Educação e Cultura - Direção Regional de Educação Especial e Reabilitação), agora denominadas por - Secretaria Regional da Educação e Recursos Humanos - Direção Regional de Educação. 


Diversidades, como o próprio nome indica, o que se redige nesta revista são temas envoltos na educação de crianças, jovens e adultos da RAM. A sua essência está na abordagem de programas, projetos, estratégias, métodos, intervenções, instrumentos pedagógicos, processos de trabalho, resultados, que foram ou estão a ser desenvolvidos com o intuito de melhorar, em todos os aspetos, a nossa educação.   

Uma vez que nas imagens o texto não é muito percetível (mesmo em tamanho grande), o mesmo está transcrito no blogue, tendo também o respetivo link por cima do título.



«O Papel do Intérprete de Língua Gestual Portuguesa»
Joana Vieira - Centro de Apoio de Psicopedagógico do Funchal

«O Intérprete e Tradutor de Língua Gestual é, segundo o artigo 2.º da Lei 89/99, de 5 de julho, um profissional que interpreta e traduz a informação de Língua Gestual (LG) para a Língua Oral (LO) ou Escrita e vice--versa, utilizando as técnicas de tradução, retroversão e interpretação adequadas, de forma a assegurar a comunicação entre pessoas surdas e ouvintes. Este tem a responsabilidade de afiançar a liberdade de expressão, verbalizando vontades, pensamentos, opiniões e críticas de alguém que sozinho não é capaz de o fazer. Compete também ao intérprete preparar as condições de comunicação, ajustando-as às diferentes situações ou contextos. Este deve, fundamentalmente, ser fluente em Língua Gestual, ter boa expressão quando gestualiza e boa entoação quando discursa/traduz para LO, a fim de tornar a mensagem mais percetível para todos os intervenientes. É também importante que mantenha sempre o contacto visual, traduza fielmente e na íntegra toda a informação, guarde sigilo sobre a mesma e seja cuidadoso com o seu aspeto físico, para que não perturbe a atenção do público-alvo.
Num contexto escolar, o intérprete tem, necessariamente, de adaptar a sua tradução ao meio que o envolve (ano escolar, níveis linguísticos, capacidades individuais, entre outros) e apresentar comportamentos que visem a motivação, o desenvolvimento, a aprendizagem e o sucesso académico dos alunos, tornando-se assim, num Intérprete Educativo. O intérprete também assume, inerentemente ao seu papel, a função de educar o aluno, pois, frequentemente, além de funcionar como ponte de comunicação, também pode intervir na educação da criança, não de forma inteiramente direta, mas fornecendo o seu ponto de vista, tanto aos professores como aos pais, com o objetivo de que estes transformem determinados comportamentos, ajustando, assim, facilitadores de aprendizagem (apoio diário nas tarefas escolares, interesse e conhecimento da LG, entre outros) para o aluno/filho. Em situações deste género, é relevante a forma como o intérprete a encara e resolve, pois deve ter um total cuidado no que faz e no que expressa, para que não existam mal-entendidos em nenhuma das partes envolvidas, tendo em conta que este apenas faz um trabalho para facilitar a avaliação do aluno surdo, assim como a sua interação com a comunidade. É ainda impreterível que o Intérprete Educativo tenha presente que, sempre que se deparar com dúvidas relacionadas com o que está a ser lecionado, deverá recorrer ao auxílio do professor e, por outro lado, quando as dúvidas existirem a nível gestual, este deverá recorrer ao apoio dos Formadores de Língua Gestual Portuguesa, que exercem funções na escola.
A minha motivação pessoal na escolha deste curso esteve basicamente relacionada com o gosto que fui desenvolvendo sobre a Educação Especial e as diversas notícias que iam sendo publicadas sobre a falta de profissionais de Língua Gestual Portuguesa na Região Autónoma da Madeira. Fazendo uma retrospetiva, admito que me sinto lisonjeada por esta escolha, uma vez que hoje tenho a possibilidade e o prazer de trabalhar em parceria com pessoas excecionais que todos os dias unem esforços, para que os discentes tenham um bom desenvolvimento académico, social e cultural, tendo sempre em conta a sua língua materna.
Relativamente à minha primeira experiência no mundo laboral, considero que manifestei muito empenho e determinação no desenvolvimento do meu trabalho, bem como proporcionei a todos igualdade de oportunidades ao nível da educação. Tentei, desde o primeiro dia, criar boas relações com toda a equipa pedagógica, a fim de desenvolver um trabalho eficaz. Essa harmonia existente, seria exteriorizada, inevitavelmente, no contacto com os alunos, dessa forma, todos os meus comportamentos e atitudes foram executados em função da sua evolução.
Contudo, enfrentei algumas dificuldades/desafios, relacionados não só com a tradução, bem como com a escassa informação e, por isso, sensibilização de alguns docentes. Mesmo assim, procurei sempre ultrapassar esses obstáculos com uma postura serena, tentando influenciar todas as partes envolvidas a alterar determinadas condutas em prol do benefício de todos. A maioria das pessoas envolvidas nesta primeira experiência, transmitiram otimismo e feedback positivo no que respeitava ao meu trabalho e, como tal, incutiram-me mais confiança nos resultados, bem como entusiasmo para continuar a exercê-lo da mesma forma ou com tendência a melhorá-lo.
Poder pertencer a esta comunidade educativa, comunicar e auxiliar o desenvolvimento educativo e social destes alunos foi, sem dúvida, uma experiência única e extremamente enriquecedora, pois não só me fez crescer muito enquanto intérprete educativo, como também a nível pessoal.
Como intérpretes de Língua Gestual Portuguesa, ocupamos uma posição de privilégio na sociedade, uma vez que temos, todos os dias, a oportunidade de fazer com que estes alunos se sintam um elemento vital na comunidade, respeitando e valorizando a sua individualidade. Torna-se claro que está nas nossas mãos divulgar, promover, sublimar e valorizar a profissão de intérprete, assim como contribuir para uma melhor organização da sua formação e abraçá-la com dedicação e empenho, pois mais do que ser a profissão para a qual nos esforçámos por conseguir, é extremamente indispensável para melhorar as relações da humanidade, da sociedade e a vida dos indivíduos com quem trabalhamos. Assim, é importante definir conceções de que a profissão de intérprete educativo, não se limita ao ato de tradução, concebido pelo senso comum, ou seja, a mera função de transportar conteúdos de uma língua para outra, mas sim uma atuação pedagógica, uma vez que lidamos com componentes do conhecimento e da aprendizagem.
Bibliografia
Lei n.º 89/99, de 5 de julho - define as condições de acesso e exercício da atividade de intérprete de língua gestual.
Rief, F. S.; Heimburgue, A. J. (2000). Como ensinar todos os alunos na sala de aula inclusiva: Estratégias prontas a usar, lições e actividades concebidas para ensinar alunos com necessidades de aprendizagem diversas. (Volume I). Porto: Porto Editora.
Sanches Ferreira, M. (2007). Educação regular, educação especial. Uma história de separação. Porto: Edições Afrontamento.
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2 comentários:

  1. Não há nada melhor que fazermos aquilo que gostamos...

    Parabéns!!

    És um verdadeiro exemplo para muitos jovens...

    Bjs

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  2. Obrigada Sheila! :)

    Adoro o que faço e isso faz de mim um pessoa muito feliz, sem dúvida!

    Beijinho

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